Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

Parentes haviam sido separados há mais de 100 anos. Encontro foi marcado por partilhas de saberes, tradições e afetos.

Intitulado “Da Floresta à Palavra: Reencontros Miranha”, a produção retrata o encontro histórico entre indígenas do Brasil e da Colômbia que ocorreu em novembro de 2024, na aldeia São Pedro, Terra Indígena Cuiú Cuiú. O encontro foi promovido como parte do projeto ‘Fortalecimento da cultura, tradições indígenas e revitalização da língua materna Miranha’, que surgiu a partir de uma demanda da própria aldeia para buscar aprender mais sobre sua língua materna.

Provenientes da Colômbia, os Miranha se dispersaram pelo Brasil, ocupando o Rio Japurá e o Médio Solimões, após séculos de explorações. Ao longo desse processo, houve intensa repressão por parte de missionários religiosos, que proibiam o uso da língua indígena e outras práticas culturais, o que acarretou a perda desses conhecimentos entre aldeias Miranha no Brasil. Contudo, as tradições e a língua materna foram preservadas em aldeias Miranha na Colômbia – o que incentivou o encontro entre os parentes durante o projeto.

O curta-metragem retrata justamente esse encontro entre os parentes há muito tempo separados, mostrando a dinâmica do encontro, os conhecimentos repassados e as atividades realizadas. A produção se aprofunda na questão do apagamento histórico das culturas indígenas e o processo de revitalização da língua, destacando as trocas de saberes que ocorreram no encontro e que promovem o fortalecimento da identidade, da cultura e da ancestralidade dos povos originários.

“A realização do lançamento desse vídeo foi mais um passo que nós demos dentro do nosso projeto. Fiquei muito feliz de ver todos que vieram nos prestigiar, conhecer um pouco do nosso trabalho, da nossa vivência e da luta que estamos levando hoje”, comenta Israel Aparício, tuxaua da aldeia São Pedro. “Ficamos felizes em compartilhar um pouco da nossa realidade, as dificuldades enfrentadas, mas também dos momentos bons que estamos vivendo dentro desse projeto”, complementa.

Segundo Vinícius Zanatto, pesquisador do Instituto Mamirauá envolvido no projeto, “os Miranha sempre foram atores políticos muito importantes na construção da sociedade indígena do Médio Solimões e Baixo Japurá, tendo inclusive membros que participaram da Constituinte de 1988. Esse projeto busca também resgatar essa importância política, essa posição de vanguarda no movimento social indígena que o povo Miranha vem ocupando historicamente na construção da identidade indígena na região”.

A estreia do curta aconteceu na sede do Instituto Mamirauá, em Tefé, na última segunda-feira, e contou com a presença de seis representantes da aldeia São Pedro, uma turma de licenciatura intercultural indígena da Universidade Estadual do Amazonas, representantes da Funai e DSEI, entre outros convidados. O projeto é conduzido pelos moradores da aldeia São Pedro, com apoio técnico do Instituto Mamirauá, ACT-Brasil, ACT-Colômbia e Conselho Indigenista Missionário.

Além de registrar o encontro entre parentes indígenas e fortalecer o projeto, o curta-metragem também serve de incentivo para outras comunidades indígenas que buscam revitalizar suas línguas e suas tradições, processo fundamental para assegurar os direitos de povos indígenas e a preservação de suas culturas.

O vídeo completo pode ser assistido no canal do YouTube do Instituto Mamirauá e da ACT-Brasil.

Texto: Miguel Monteiro